terça-feira, 30 de agosto de 2011

Por que o ANDES assinou esse acordo?

Prof. Edilson José Graciolli
A assinatura do ANDES no acordo proposto pelo governo (MPOG e MEC) e endossado pelo Proifes causou muita surpresa, indignação e manifestações entre os docentes de muitas universidades federais. Muitos chegaram a dizer que os dirigentes do ANDES (aqui entendidos a diretoria nacional, a coordenação do setor das federais e os representantes das seções sindicais que se reuniram em Brasília nos dias 25 e 26 de agosto de 2011) teriam traído a categoria, se convertido em pelegos e outras desqualificações com as quais não tenho concordância.
A meu ver, um conjunto de quatro determinações confluiu para esse desfecho.
A primeira vem de longa data. O ANDES desenvolveu na última década uma política de sectarismo, distanciamento da base da categoria docente e aparelhamento político-partidário que em tudo vê oportunidade para sustentar bandeiras de segmentos da esquerda brasileira que, a rigor, são inexpressivos, mas bastante hábeis quando o assunto é controlar máquinas sindicais. A isso se soma uma perda crescente da capacidade de negociar, abdicando-se, assim, desta que é uma necessidade de toda e qualquer atividade sindical. O que contou, nesse período todo, foi capitalizar o que fosse possível para desgastar a imagem do governo junto à sociedade.
Entretanto, na presente conjuntura houve três aspectos que, embora relacionados ao pano-de-fundo mencionado, possuem uma dimensão mais imediata.
A fraca mobilização da categoria para uma greve e a maioria favorável à assinatura do acordo
O atrelamento à CSP-Conlutas foi decisivo para que a Diretoria Nacional do ANDES e os militantes a ela alinhados inflassem, artificialmente, sem lastro real, a tese de que haveria uma grande insatisfação entre os docentes e que isso se expressaria numa forte adesão ao indicativo de greve aprovado no 56º Conad, realizado em Curitiba em julho deste ano. Os números, entretanto, da mobilização revelaram uma realidade muito diferente, ou, pelo menos, que a insatisfação existente não se traduziu em mobilização.
A julgar pelo relatório da reunião do setor das federais realizada na semana passada (25 e 26 de agosto), menos de 30 seções sindicais (26 no primeiro dia e 20 no segundo dia) estavam presentes. Os números nesse relatório são muito confusos, mas há uma informação sistematizada (que, diga-se de passagem, não coincide com o que se apura dos informes das seções sindicais...), segundo a qual 19 seções foram favoráveis à assinatura do acordo, 9 contrárias e 3 abstenções.
Informações que ainda precisam ser confirmadas apresentam um quadro ainda mais delicado. Das seções sindicais que são de IFES, 34 não deram informe algum, 13 foram pela assinatura do acordo, 17 contrárias à assinatura do acordo (desta, 10 foram a favor de algum indicativo de greve e 7 contrárias). Em outras palavras, houve uma autêntica fantasia, ou erro grosseiro de avaliação, ou, ainda, tentativa de inflar a “jornada nacional de lutas”, ponto sobre o qual discorro em seguida.
Mas não se pode dizer que o próprio setor das federais não tenha percebido essa fragilidade. No parágrafo 17 do anexo 3 do relatório da reunião do setor do dia 20 de agosto está dito com todas as letras que
... o centro do debate agora é se a nossa capacidade de reagir na negociação emergencial terá a potência e o alcance para arrancar mais do governo, assumindo os riscos decorrentes da rejeição da proposta de acordo que estará na mesa no dia 25, ou se compreendemos este momento como um passo em curto prazo, reconhecemos ganhos frente à pauta embora limitados, e que seguiremos no enfrentamento e mobilização para a negociação da carreira e do restante da pauta, incluindo as pautas locais. (grifos meus).
A jornada nacional de lutas
                Não é de hoje que a CSP-Conlutas se escora no ANDES. A título de exemplo, vale a pena conferir o Informativo Especial 108 da ADUFU, de 11/04/2011, especialmente os três últimos parágrafos do tópico “A ADUFU e as centrais sindicais” (disponível em http://www.adufu.org.br/admin/uploads/downloads/2/1302283102_0.48695724_l%20-%20108-11-04-11.pdf), que mostram como essa central, com a anuência da Diretoria Nacional quer cobrar uma suposta dívida que a ADUFU, que não é filiada à CSP-Conlutas, teria desde... julho de 2009!!!
                Por essas e outras é que alguns de nós temos dito que a pauta do indicativo de greve proposto para os docentes das IFES, mesmo que contemple demandas nossas, se insere nessa desejada jornada da CSP-Conlutas que, a bem da verdade, foi mais um fiasco, sem repercussão significativa.
                Fizemos papel de palhaços. A “grande” mobilização tinha prazo de validade: o dia 24 de agosto, com a passeata em Brasília. Certamente imagens foram gravadas e serão veiculadas em alguns programas partidários nos próximos meses. A conferir.
Os riscos de o Proifes capitalizar os ganhos do acordo
                Exceção feita ao percentual (4%) e prazo (março de 2012) do “reajuste” (escárnio, na verdade) oferecido pelo governo aos docentes, os demais pontos vêm, sim, ao encontro de reivindicações antigas nossas. Esses ganhos seriam capitalizados apenas pelo Proifes e o ANDES, temendo o aumento de sua perda de legitimidade e representatividade, ficaria, como disse em outro texto, com “a brocha na mão”.
                Aqui é bom lembrar que as ADs ou sindicatos locais que estão filiados ao Proifes ou a ele se alinham nas negociações têm conhecido um crescimento de adesões e muitas das maiores universidades federais estão nesse campo. Quanto ao ANDES, não sei se por coincidência ou não, o fato é que nem há mais no site a relação de suas seções sindicais (fio-me no acesso que fiz ao escrever este artigo, em 29/08/2011, por volta das 21h30).
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                Enfim, justificam-se a indignação e a perplexidade que sentimos. Mas a assinatura do acordo, pelo ANDES, não está suspensa no ar, deitando raízes, antes, na falta de chão que afeta o ANDES, na ausência de mobilização dos docentes e numa disputa sindical com o Proifes. O cômico é que, agora, o ANDES chama o acordo de “conquista histórica” e o Proifes diz que “não há como proclamar o acordo como uma vitória”.
                A Diretoria Nacional do ANDES não pelegou, mas deveria ser demissionária, pois sua política está falida, a exemplo da estrutura e fluxo de decisões do ANDES. Quem sabe, com uma demissão de toda a diretoria, se abre espaço para que outra perspectiva se apresente a essa entidade que está na UTI, dependendo de “aparelhos”. Suas instâncias deliberativas são, cada vez mais, esvaziadas e controladas por minorias que não expressam o que pensam seus pares, constituindo maiorias circunstancias que não têm a capacidade de pôr em movimento praticamente nada, além, evidentemente, de aviões e rede de hotéis para o turismo sindical. Sua resistência a ferramentas de interação tem como complemento um contínuo desperdício de papel, tempo, dinheiro e demais recursos da categoria que o sustenta. Os ralos por onde escoam fatias importantes do dinheiro das seções sindicais são exatamente as destinadas a essas viagens e eventos (congressos, conads, seminários, reuniões de setores), doações sem que critérios tenham sido definidos pela categoria e os repasses (20% mensalmente) ao ANDES. Até quando vamos tolerar isso?
Quanto à ADUFU, sua história é anterior à do ANDES e merece todo nosso respeito. Muitas vezes a ADUFU pautou o sindicato nacional; nos últimos tempos, isso de nada adianta, pois a máquina “andina” é impermeável a propostas que não rezem na cartilha do sectarismo, vanguardismo e alinhamento à CSP-Conlutas. Saberemos reconhecer a falência do ANDES e buscar outros rumos, definidos autonomamente pelos professores? Ou prevalecerá a tese de que “somos ANDES até a morte”?
Prof. Edilson José Graciolli
Prof. de Sociologia e Ciência Política do Incis/UFU

Fonte: Adufu

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