
Tivesse o país — independentemente do partido
no poder — uma política educacional séria, o ensino ainda não seria tão
sofrível a ponto de a quinta maior economia do planeta se colocar em
humilhantes 87º lugar entre 142 nações quando se avalia a qualidade do ensino
básico e em 57º em relação ao superior. Tampouco sua população com diploma
universitário estaria tão aquém, por exemplo, da dos vizinhos Uruguai e Chile,
que, em escolarização desse nível, ostentam taxas brutas de 63% e 59%,
respectivamente, contra índice brasileiro de 36%.
No ranking do Times Higher Education,
entidade britânica reputada como das mais importantes do mundo em avaliação da
educação, apenas a Universidade de São Paulo (USP), entre todas as brasileiras,
está na lista das 100 mais bem colocadas — assim mesmo, numa posição
indefinida, que oscila entre a 61ª e a 70ª. Não é de estranhar, pois, que os
professores da rede pública de ensino superior estejam de braços cruzados desde
17 de maio, com a solidariedade de estudantes e funcionários. Pior seria a
acomodação diante de um quadro de extrema deficiência.
Segundo o Sindicato Nacional dos Docentes
das Instituições de Ensino Superior (Andes), o movimento abrange 95% das
universidades federais e dos institutos federais de educação, além de todos os
Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets). Estarrece que a principal
reivindicação seja básica: a reestruturação do plano de carreira. Sem
entendimento, a educação certamente desce mais alguns degraus, enquanto os
estudantes ficam sem aula.
Para o ministro da Educação, Aloizio
Mercadante, a greve é precipitada. Argumenta que o plano é para vigorar em 2013
e que o Ministério do Planejamento retomará as negociações esta semana. Diante
dos mais de 50 dias de paralisação no primeiro semestre, já comprometido,
melhor considerar que a solução é que vem sendo demasiadamente procrastinada. O
prejuízo inclusive afeta duplamente o segundo período do ano letivo: com o
atraso no calendário e com a suspensão das matrículas dos estudantes aprovados
no Sistema de Seleção Unificada (Sisu), cujo prazo seria encerrado em 2 de
julho, foi adiado para amanhã e agora tornou-se uma incógnita.
Priorizar a educação não parece estar na
pauta do governo, que destina ao setor 5,1% do PIB e resiste à decisão da
comissão especial da Câmara dos Deputados de aumentar os gastos para 10%. Dizer
que estamos no patamar de países desenvolvidos (a média do G-7, grupo das sete
maiores economias, é de 4,9%) não serve de consolo, pois temos enorme atraso a
superar. Aliás, mais do que destinar recursos volumosos, importa assegurar a
eficiência dos investimentos.
A qualidade do ensino passou a ser
mensurada no país na década de 1990. Mas pouco se avançou nesse quesito desde
então. Apesar da falta de mão de obra qualificada, escolas e universidades não
conseguem se tornarem atraentes. E só o serão quando contarem com corpos
docente e discente preparados e satisfeitos.
Fonte: Correio
Braziliense
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