Os grevistas do Judiciário e do MPU se opõem à proposta do presidente do Supremo de pedir 15,8% de reajuste ao governo. Os 56% que eles reivindicam custariam quase R$ 8 bilhões aos cofres públicos.
Conselheiro do Planalto alerta Dilma para o risco de o Brasil virar uma Grécia, uma falida república de funcionários públicos
Funcionários da Justiça recusam a proposta do presidente do Supremo Tribunal Federal de pedir 15,8% de reajuste a Dilma Rousseff
Por um reajuste de salário de até 56%, que custaria quase R$ 8 bilhões aos cofres públicos, os servidores do Judiciário e do Ministério Público da União (MPU) ocuparam ontem a Praça dos Três Poderes e tentaram invadir o Palácio do Planalto, num confronto aberto contra o governo. Inconformados com a decisão da presidente Dilma Rousseff, de não lhes conceder aumento, os manifestantes derrubaram as grades que protegem o Planalto e partiram para o confronto com a polícia, cena que se tornou rotina nos últimos dias. Uma pessoa foi presa, mas liberada depois de muita negociação entre a Polícia Militar e sindicalistas.
Os servidores do Judiciário e do MPU estão em greve há quase um mês no Distrito Federal e em vários estados, e não aceitam o fato de o governo ter oferecido correção salarial apenas para os funcionários civis do Executivo. Na última terça-feira, os grevistas pressionaram o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ayres Britto, a pedir a Dilma que preveja aumento à categoria na proposta de Orçamento de 2013 que será encaminhada ao Congresso até 31 de agosto. Mas Britto se comprometeu apenas a pedir que a presidente estenda a proposta de reajustes de 15,8%, em três anos, a todo o funcionalismo. Os sindicalistas taxaram essa oferta como "uma esmola".
Pelos cálculos do Sindicato dos Servidores do Judiciário no Distrito Federal (Sindjus/DF), 4 mil pessoas participaram dos protestos, mas a Polícia Militar calculou somente 500 manifestantes. Durante o tumulto, o analista judiciário Advilson Fernando, 30 anos, foi preso porque derrubou parte das grades que separam a Praça dos Três Poderes do Planalto. A manifestação começou a se aproximar do Palácio por volta das 17h. No confronto, servidores jogaram cartazes, bandeiras e até pedras na direção de cerca de 200 policiais, que responderam com spray de pimenta. O empurra-empurra durou cerca de 20 minutos.
O confronto foi acompanhado pelo advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, que estava na sala do secretário-geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, no quarto andar da sede do Executivo. Enquanto os manifestantes bradavam palavras de ordem contra o governo, ele gesticulava como se estivesse com um cassetete nas mãos. Um dos presentes na sala de Carvalho disse ao Correio que, no momento do tumulto, Adams estava relatando a primeira vez que viu uma reintegração de posse no Rio Grande do Sul.
Trânsito parado
Para evitar acidentes, o trânsito foi interrompido na altura da Rua das Bandeiras, em frente ao Congresso Nacional, e só foi liberado depois das 18h. O coordenador-geral do Sindjus/DF, Jailton Assis, lamentou o confronto dos grevistas com a polícia. Segundo ele, a atitude dos PMs foi adequada ao longo da marcha, que partiu do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas o clima esquentou na Praça dos Três Poderes, entre o STF e o Planalto. "Houve posturas equivocadas dos dois lados", admitiu.
Ele ressaltou, porém, que os servidores estão unidos e vão continuar cobrando o governo, já que os salários da categoria estão até 80% defasados em relação a outras carreiras. "Chegamos a um ponto em que o Judiciário inteiro tem que se unir. A gente acredita que só a greve resolve", emendou Altair Carneiro, técnico do STF.
A presidente Dilma Rousseff, no entanto, está convencida de que os servidores do Judiciário não estão entre as prioridades por reajustes, "porque seus funcionários já ganham demais". Essa mesma avaliação já foi feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Vamos insistir. O Poder Judiciário não pode ser submisso nem ao Executivo nem ao Legislativo. A força dos servidores em greve há um mês fez o governo passar de uma oferta de 0% para um aumento de 15,8%. Se pressionarmos mais, chegaremos aos 56%", frisou Jailton Assis.
Fonte: Correio Braziliense
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